segunda-feira, 4 de maio de 2009

O "jeitinho" brasileiro no caso Isabela Nardoni.


Até que ponto vai o jeitinho brasileiro? Pra quem não conhece, ou não sabe o que é esse hábito nacional, aqui está uma definição:

Existe sempre um jeito de sair dessa ou de levar vantagem.

Isso até tem uma conotação engraçada entre nós brasileiros. Quem nunca deixou de dar nota fiscal, pra não ter que dar tanto de comer ao Leão? Ou quem nunca descobriu uma maneira de burlar uma blitz, depois de ter bebido um pouco na noite?

E quem nunca, também, não pagou um amigo pra roubar seu próprio carro, e assim pegar a grana do seguro? Inofensivo, né?

Bom, se seu alerta ético já começou a soar, você vai entender o que quero dizer.



Você se separou da sua mulher, com quem tem uma filha pequena. Motivo: muitas brigas. Conhece outra mulher, se apaixona e casa com ela. A relação é passional, muitas discussões, que eventualmente terminam em sexo. O casal acha isso excitante e por isso continua junto. Eles têm um filho. Mas a segunda mulher é tão ciumenta, que não aguenta conviver com a enteada. Além disso, dinheiro é um problema para os dois.

As brigas começam a afetar as crianças. A enteada é respondona com a madrasta. E como para a mulher já é natural bater às vezes no marido, ela sente liberdade em bater na menina também. Só que nesse dia, a criança fica com um ferimento sério na testa. Chorando e esperneando, a garota grita que vai contar tudo para a mãe dela. A madrasta, imagina todo o cenário de agressão infantil indo parar na delegacia. Num ato de auto proteção, ela decide eliminar o possível motivo, para a destruição de sua família. Ela tenta enforcar a criança. A infante fica desacordada. O pai, em desespero, acha que a filha está morta. Sem pestanejar, ele pega a criança, leva-a até o quarto, fura a rede de proteção da janela e joga sua filha do sétimo andar.

Você deve se perguntar: o que ele pensou naqueles poucos segundos antes de jogar o corpo pela janela?

Eu consigo imaginar.

Ele deve ter se lembrado de quando colou no colégio pra passar em química. De quando um amigo armou para o celular dele, não gastar créditos e ter sempre como ligar. E principalmente, ele se lembrou que nunca ninguém reclamou.

Vendo pelo lado lógico, ele tinha um problema nas mãos. Para sair dessa, ele arranjou uma solução.

Na teoria, foi perfeito. Mas na prática, ele falhou. Pois ele e a mulher acabaram presos.

Todos nós já imaginamos o crime perfeito. Principalmente depois de ver um filme de roubo de banco. Você torce para que o plano dê certo. Isso é natural, pois somos seres inteligentes, que procuram sempre uma solução para uma situação problemática. Mas notem, isso sempre é visto pelo nosso lado racional, pois se fossemos deixar a emoção aflorar na hora, é bem provável que muitos estudantes da 5ª série, saíssem chorando de uma prova de matemática.

Vivemos num país onde quem leva vantagem burlando regras, é visto como esperto, como safo. Além de resolver questões, isso infla o ego e faz o indivíduo sempre a procurar mais essa sensação. Pois, afinal, sempre dá certo, não é? É socialmente aceitável, certo? Como diria o vocalista do Bidê ou balde: e por que não?

O sangue da menina era igual ao do pai. Foi ele quem deu o nome a ela... e por que não?

É quase um complexo de Deus: dei a vida, posso tirá-la também.

Essa estória, poderia ser a do caso Nardoni. Não vou dizer que é, pois fantasiei algumas situações. Utilizei esse tipo de recurso para colocar o leitor, no lugar do protagonista e entender a lógica dos acontecimentos. Isso tudo para chegar a pergunta: até que ponto o jeitinho é perdoável?
Sempre tive esses pensamentos sobre o caso, mas nunca coloquei por escrito, pois sempre acreditei que muitas vezes, é melhor falar de algo bom, do remoer coisas ruins, que não levam a nenhuma solução. E com a condenação, pensei: eles estão tendo o que merecem. Fechei o caso.

Mas depois de saber que o casal condenado, contratou o mesmo advogado que defendeu Sérgio Gomes da Silva e Farah Jorge Farah, para uma apelação, minha indignação explodiu em pensamentos, os quais compartilho com vocês, neste singelo blog.


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