sexta-feira, 13 de março de 2009

Quando saio.


(leia se estiver de bom humor)

Quando saio a noite, sempre me lembro da frase do Tiago: publicitário é uma mistura de advogado com camelô.

Pois realmente, na balada, pra ganhar alguém você tem que vender seu peixe.

E isso tudo, leva muito em consideração o visual. Principalmente pras gurias. Não sei vocês meninas, mas eu nunca cheguei num cara. Nada contra as guerreiras, mas acredito que infelizmente, pra nós mulheres, o visual importa muito na hora de ganhar um carinha. Por isso, praquele paquera chegar em você, capriche no layout, se não, muitos olhos vão passar, mas nenhum vai parar em você. É sexista, é fútil, mas é verdade. E vocês sabem disso.

Eu uso óculos. Desde os 8 anos de idade. Minha miopia é alta, meu astigmatismo é maior ainda. E durante minha adolescência, saí muito pra noite sem os óculos, pois achava queimação de filme ser a “quatro-olhos” da festa. É claro que eu não enxergava ninguém, e a festa acabava sendo um suplício. Então, aos vinte anos, experimentei lentes de contato, me adaptei legal, mas não tinha saco de colocar, lavar, etc. Por isso, hoje em dia saio com os óculos, sem trauma nenhum, e muitas vezes, me esqueço até que estou usando-os. O problema, são as outras pessoas. Querendo ou não, existe um preconceito contra os “quatro-olhos”. Talvez hoje nem tanto, pois mais gente usa essas lentes. Mas antigamente (leia-se anos 80), isso era um grande problema, vide aquela música dos Paralamas. Pra quem usa óculos, não tem como não se identificar com essa canção: “Eu não nasci de óculos.... Eu não era assim”.
Mas hoje, é até charmoso ter um par de lentes. É considerado modérrrno. Principalmente aquelas armações de hastes grossas e pretas. Quanto mais grossa a haste, mais hypado você é. E quanto mais fina, mais inseguro você é aos olhos das outras pessoas.

Deixe-me explicar.

Meus óculos sempre foram super pesados devido ao meu grau. Por isso, essas armações consideradas “modérrrnas” me fazem lembrar situações infantis onde o que eu mais queria, era ter uma armação transparente, para as pessoas verem o meu rosto e não os óculos. Então surgiram os modelos “pregados” nas lentes de policarbonato, e as hastes finas. Finalmente meu sonho se realizou, e eu podia sair pra noite enxergando todo mundo e sem aquela “máscara”.
Mas eu descobri uma coisa, sobre essa onda de usar óculos, ser “cool” agora. Quem usa armações “transparentes”, como a minha, ainda é visto como aquele “quatro-olhos” querendo se enturmar com os outros. Os outros olham e pensam: “como ela é insegura, não quer assumir sua deficiência, ou melhor, está querendo tirar onda de sem-óculos, como se ninguém estivesse notando que ela não enxerga sem eles”. Ou seja, os outros preferem que você assuma totalmente que usa óculos, e que não tente disfarçar isso com uma armação discreta. As pessoas preferem que você saia na rua sem os óculos, não cumprimente ninguém (pois não enxerga nem a ponta do próprio nariz), e fique com fama de esnobe por isso. Acho que usar um óculos mais estiloso, de aro preto, faz com que tu sejas identificado mais facilmente: “hum, aquele deve ser intelectual”, quer dizer, isso a minha vó diria. Hoje em dia a gente vê alguém com esse tipo de armação e diz: “hum, esse deve ser designer”. É uma forma mais fácil de identificar os outros. E todo mundo sabe que ninguém gosta do desconhecido, principalmente daqueles “desconhecidos” que você não consegue identificar de qual tribo ele é. Redundâncias à parte, o que quero dizer é: muitas vezes, as aparências enganam, e muito. Clichês à parte, o que quero dizer é: vou continuar usando esses óculos e vou esperar que os outros tenham menos preguiça social, e conversem uns com os outros, sem tentar rotular.

As pessoas não mudam, eu sei. Então, o melhor que podemos fazer é rir das maneiras que os seres humanos tentam abordar os outros, através da aparência. Eu poderia até dar um curso de como chegar em pessoas de óculos. Ou melhor, eu posso dizer o que NÃO se deve dizer. Por exemplo, nunca tente dar uma cantada numa guria que está de óculos, dizendo: que óculos lindo. O máximo que ela vai fazer é te dar o endereço da ótica onde ela comprou. E pode ser considerado como uma grosseria, pois você não chega em alguém que não tem um braço e diz: “tu fica tri bem sem braço”. Ou pra alguém que não tem uma perna: “eu adooooro perneta”. É rude, e ainda por cima, é como se você estivesse só notando os defeitos dela!
E a pior coisa que se pode dizer a alguém que usa óculos, numa cantada é: “você deve ser intelectual”. É o mesmo que chegar em alguém que não tem um dedo e dizer: “você deve ter sido torneiro mecânico... Ei! Você pode ser presidente um dia!”


Texto postado originalmente no falecido Padrão Iogurte.





2 comentários:

  1. gente, que texto foda. engraçado, psicofilosófico, observativo, sei lá.

    com certeza me acrescentou formas de percepção.

    :D

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