segunda-feira, 16 de março de 2009

Agora você vê. E agora você não vê.



(seria bom se você já tiver assistido algo da obra de Pedro Almodóvar para ler este post)

Devo dizer que quando era adolescente, eu achava os filmes do diretor espanhol Pedro Almodóvar, sem sentido e forçados. Mas com o amadurecimento mental, comecei a admirar sua obra.




O primeiro dessa leva, foi o “Tudo sobre minha mãe” que achei interessante. Mas ao mesmo tempo, não entendia todo o auê da crítica sobre o filme. Era uma película light se comparada com as anteriores do espanhol. Claro que ainda havia lá, os seres semi-bizarros criados por Almodóvar: o transformista, a freira grávida, o pai que virou mulher. Uma trama com personagens “mexicanescos” e situações estranhas. Típico filme Almodovariano, você diria. Mas o que realmente se sobressai, é a razão de tudo isso existir. Nada é gratuito nos filmes dele. E o que parece ser exagerado, muitas vezes não é o que pensávamos. Por exemplo, o início de “A Lei do Desejo”. Vemos uma cena de forte conteúdo sexual entre dois homossexuais, e pensamos “lá vem esse Almodóvar forçar a barra”. E então, quando você está quase saindo da sala de cinema (ou apertando stop), vemos que era um filme dentro do filme. Aqui podemos notar a perspicácia do roteirista/diretor em brincar com o próprio estereótipo. É quase uma meta-linguagem. Acredito que Woody Allen também tenha essa característica. Mas voltando ao cineasta latino, com seu jeito quase de ilusionista em enganar o espectador, devo dizer que “Fale com ela” foi o filme que me fez admirar o diretor em questão. Talvez o que tenha mais enganado o público, foi o enfermeiro Benigno. Com um jeito carinhoso demais, logo pensamos que ele é gay e que nunca desejaria a personagem em coma. Mas de uma forma quase lírica, com um filme dentro do filme (novamente), Almodóvar nos mostra o ato que mudará o curso do personagem, diante da Lei e perante nossos olhos. Ele utiliza também uma apresentação de dança, onde o homem tira os obstáculos do caminho, para a mulher não se machucar... essa descrição diz tudo. E mesmo tendo um final piegas para o gosto de alguns, acredito que muitos ficam tocados pela simples frase: “Marco e Alícia”.



Talvez o melhor filme que melhor exemplifique o “macete” de roteiro que Almodóvar utiliza, seja “Mulheres a beira de um ataque de nervos”. No filme de 1988, quando a personagem principal, Pepa, uma mulher largada de um amante casado, vai procurar uma famosa advogada feminista, pois acredita que a mesma, irá se solidarizar com a causa de uma amiga envolvida com um terrorista, o que acontece é uma sucessão de grosserias, que beiram o pastelão. Mas o que nós, reles audiência, não sabíamos, era que a tal advogada era a outra amante do namorado de Pepa! E então toda aquela discussão que parecia gratuita antes, faz todo sentido agora. E além disso, enquanto nós assistimos o filme, nós pensamos que Pepa trata-se de uma mulher rejeitada que quer a todo custo reencontrar o amante para faze-lo voltar. Quando na verdade, o filme todo, trata-se de uma futura mãe, querendo avisar a existência do seu filho para o pai. E isso só se descobre no final.

Estamos cansados de ver em novelas, o recurso do fantasma que assombra, ou ajuda certos personagens. Num país onde o espiritismo é do agrado da maioria de sua população, o artifício do espírito que volta é Ibope alto na certa. Em “Volver”, quando achamos que ele resolve utilizar esse recurso folhetinesco, tão conhecido dos nossos olhos, ele nos surpreende com um fantasma que solta gases... e não são de enxofre! Metano mesmo! E claro, descobrimos que o fantasma da mãe, na realidade é de carne e osso, e está se escondendo por causa de uma mentira no passado. E os logrados, de novo, somos nós, estupefata audiência. Bravo.




2 comentários:

  1. ahhhi,
    quero dizer, bem rapidinho, q tô feliz :D

    (eu sou boba ¬¬)

    bjo, até daqui a pouco

    ResponderExcluir
  2. Bravo.
    adoro Almodóvar - essa alma que me faz/deixa pensar(ndo) dias, digerindo as idéias.
    qdo tiver dinheiro, quero a coleção do Almodóvar. Tipos, tudo.
    aliás, espero que´até lá o planeta não exploda.

    :)

    ResponderExcluir